Em 06/08/2013 às 09h08

A arte dos levantamentos

Já dizia Adolfo Guilherme: “Levantador é a alma da equipe”. De cada três toques a que a equipe tem direito, em circunstância normal, um é do levantador. O levantador exerce uma função específica no contexto do jogo e sua participação é importantíssima no sucesso da equipe. Infelizmente, observamos entre alguns jogadores que não apresentam condições de ser cortadores se alvoroçarem na difícil missão de levantar, ou, às vezes, de migrar para a posição de líberos. Todos os que agem assim, na maioria esmagadora das vezes, fracassam. É muito comum entre jogadores sem aptidão para o voleibol, na ânsia de continuar jogando, tentar mudar de posição: levantador ou líbero. Se não tiver vocação para essas posições, o resultado, inevitavelmente, seráfrustração e decepção.

Ser atleta, músico, bailarino, poeta ou matemático é fácil para algumas pessoas e impossível para outras. Essas diferenças nas aptidões individuais dos atletas devem ser respeitadas pelos treinadores, dirigentes, familiares, etc. A Metodologia Esportiva Moderna sugere: “Não devemos contrariar as características individuais dos atletas, sob pena de total fracasso nos resultados finais, trazendo grande frustração para os técnicos, mas, principalmente, para os atletas”. Afinal, nem todas as modalidades esportivas são para todos os pretendentes.

Levantar é uma função dentro da equipe que requer de seus praticantes, além da vocação, bom toque de bola, astúcia, inteligência, discernimento das jogadas e, acima de tudo, talento. Enfim, o levantador é o principal artista do espetáculo. É, sem dúvida, o maestro que rege a sinfônica. Tem preferência para iniciar na função de levantador o atleta dotado daquelas qualidades. Entretanto, deve possuir, acima de tudo, vocação. Uma tarefa às vezes melindrosa para o treinador é convencer o atleta pouco esclarecido a se especializar na função de levantador, principalmente se ele não reúne qualidades de atacante e apresenta atributos de bom levantador.

Antigamente, os levantadores não gozavam do mesmo conceito dos cortadores. Hoje, no entanto, os levantadores foram elevados à categoria de “estrelas”. Prestígio que não dispunham no passado. Até a final da década de 60, o levantador era considerado um jogador de menor expressão na equipe. Naquela ocasião, quando algum jogador era escolhido para exercer a função considerava-se desprestigiado e até mesmo ofendido. Ninguém queria ser levantador. Inacreditável, mas, é verdade. Hoje, com a evolução dos valores e da mentalidade esportiva, o conceito é outro. O êxito do ataque depende muito do critério que se adota na distribuição dos levantamentos. Seja qual for o sistema de ataque adotado, deve haver um critério na distribuição dos levantamentos. O número de levantamentos não deve ser igualmente dividido entre os atacantes. Taticamente, devem-se se levar em consideração as seguintes particularidades:
1- Dar a trajetória preferida de cada cortador;
2- Preferir o cortador que estiver à frente do bloqueador mais baixo;
3- Evitar servir ao cortador que estiver à frente do bloqueador mais alto;
4- Distinguir o cortador em melhores condições para finalizar o ataque;
5- Nos momentos mais decisivos, dar preferência aos cortadores mais positivos ou que estejam dando mais lucro à equipe;
6- Simplificar as jogadas na fase final de cada set, preferindo as combinações mais simples;
7- Disfarçar, retardando ligeiramente o toque de bola para que o bloqueio adversário não perceba de imediato qual dos atacantes irá concluir o ataque;
8- Observar as trocas de posições entre os bloqueadores adversários para se orientar na distribuição dos levantamentos; 

Enfim, os levantadores devem sobrecarregar os atacantes que possam contribuir para o sucesso da equipe. Curiosamente, em certas ocasiões os cortadores de menor projeção podem ser os mais eficientes. Em geral, são os menos vigiados pelo bloqueio e defesa adversária. Os levantadores não devem se preocupar em agradar os atacantes, servido-os a todos instantes. Devem levantar para quem tenha mais chance de finalizar o ataque com sucesso.
Embora o sistema de ataque de bolas rápidas tenha evoluído, os levantamentos com trajetórias altas são os mais usados. O seu emprego ocorre, em maior quantidade, quando as recepções do saque e da defesa são fora da rede. Os levantamentos com trajetórias rápidas à rede são muito eficientes e até mesmo necessários. Todavia, é preciso que haja absoluto entrosamento entre o cortador e o levantador. O emprego deste tipo de ataque em uma equipe, mesmo que seja integrada por craques, mas que não esteja devidamente treinada e ensaiada, poderá ser negativo. E quando os jogadores insistem em fazê-lo, o que presenciamos não é um ataque constante e positivo, mas, sim, o cortador acudindo e salvando a maioria das bolas levantadas. “Levantamentos rápidos não são sinônimos de bolas baixas”.Os levantamentos  poderão ser com trajetórias rápidas, porém altas. Bolas baixas e marcadas facilitam a tarefa do bloqueio adversário. Alguns treinadores imaginam que, para executar os levantamentos rápidos, as bolas devem ser necessariamente baixas. Engano. Os levantamentos podem e devem ser rápidos, porém com bolas altas. Ou melhor, no tempo certo de cada cortador.
Os técnicos devem observar e fiscalizar o critério do levantamento na distribuição das bolas para os cortadores. Já presenciamos algumas vezes o levantador sobrecarregar determinado cortador na base do protecionismo. Taticamente, é conveniente dar preferência ao melhor cortador na rede ou aquele que está em condições adequadas para finalizar o ataque com êxito. Contudo, pode acontecer do levantador ser pressionado ou desejar agradar este ou aquele atacante. A falta de critério tático na distribuição dos levantamentos pode provocar, além da derrota da equipe, o desagrado geral dos demais atacantes. O levantador deve inspirar confiança ao cortador Atualmente, o uso dos levantamentos para os atacantes de bolas de fundo da quadra (bola russa) tem sido usado com muita freqüência. As equipes utilizam esse recurso com muita constância e ao mesmo tempo com muita eficiência, aumentando, consideravelmente, o poderio de ataque. Essas bolas, no entanto, devem ser levantadas dentro da zona de ataque e não em cima da linha de ataque ou na zona de defesa. Lembramos aos treinadores que o salto para essa cortada deverá ser para cima e para
frente. Semelhante ao salto em extensão. Agindo assim, os cortadores cortam bem próximo à rede, como na cortada efetuada pelos jogadores das posições 2, 3, e 4. Essas
bolas, para melhor efeito, deverão ser levantadas mais baixas e mais rápidas para
surpreender o bloqueio e a defesa adversária. O uso desse levantamento passou a ser
utilizado entre nós no início dos anos 80, mais precisamente em 1983. Os primeiros
atletas brasileiros a executar com eficiência esse tipo de cortada foram: Pelé, Xandó e
Renan. No âmbito internacional, o primeiro foi Thomas, da Polônia, no campeonato
mundial na Cidade do México, em 1974. A Polônia foi campeã.
Táticas nos levantamentos de bolas rápidas e combinadas (fintas).
“Finta é a arte de iludir o bloqueio e a defesa adversária.”
Uma das funções primordiais dos levantadores é fintar o bloqueio e a defesa
adversária. As cortadas de bolas rápidas são aquelas que requerem, além de muita
harmonia nas combinações de jogadas, perfeito entendimento e entrosamento entre o
cortador e o levantador. Nesses levantamentos, cabe ao levantador observar a corrida e o
salto do cortador, para calcular a trajetória da bola. Se ele notar que o atacante deslocouse antecipadamente, o levantamento deverá ser um pouco mais baixo. Mas, se ele
perceber que por qualquer motivo ele atrasou-se, o levantamento precisa ser um pouco
mais alto. Nos levantamentos de bolas de “tempo”, é o levantador quem faz a “conta de
chegar”, regulando a trajetória da bola, para facilitar a atuação do cortador.
Saber regular e ajustar a trajetória da bola é uma habilidade necessária a todos os
levantadores. Alguns cortadores são mais rápidos e outros mais lentos na corrida e no
salto. Nos ataques de bolas rápidas é o levantador que dá o “tempo” da bola (ajuste da
altura da bola com o salto do cortador). Já nas bolas altas, é o cortador que dá o “tempo”
(ajuste do salto do cortador com a altura da bola). Para o sucesso das jogadas de bolas
rápidas é necessário um bom passe. Caso contrario, as bolas serão levantadas altas nas
extremidades da rede, facilitando, conseqüentemente, a ação do bloqueio e defesa