Em 06/08/2013 às 09h11

A difícil vida de técnico

A profissão de técnico esportivo, embora tenha uma aparência festiva e alegre — principalmente no decorrer das disputas —, talvez seja a mais árdua e espinhosa entre todas. Na conceituação geral, injustificamente, quando uma equipe vence, o feito é atribuído aos atletas. Mas, quando perde, é por exclusiva culpa da direção técnica: “Como os méritos das vitórias pertencema todos, as derrotas também são por culpa de todos” (Adolfo Guilherme). Precisamos inverter essa equação.Durante o jogo, o técnico deverá concentrar toda a sua atenção no desempenho das equipes, a sua e a do adversário, para distinguir o mais rápido possível onde se localizam as falhas de cada uma delas e de cada jogador, afim de, na primeira interrupção, procurar corrigir os defeitos que estiverem se registrando na sua equipe e, ao mesmo tempo, orientá-la no sentido de anular os pontos positivos e explorar os negativos da equipe adversária. Deverámanter-se atento a todos os lances, mas sempre demonstrando calma, discrição, tranqüilidade e, ao mesmo tempo, vibração e entusiasmo ao lado da quadra. Pode parecer um paradoxo, mas é perfeitamente viável esse comportamento ambíguo. Tal conduta se justifica para que não se transmitanervosismo nem desespero aos seus comandados. Outra providência muito importante é manter os atletas que vão ser utilizados durante o jogo fora do banco de reservas se aquecendo e, principalmente, atentos ao jogo. Às vezes, o que ocorre são atletas reservas alheios ao andamento da partida. Com a permissão dos treinadores de ficarem em pé próximos à quadra, alguns deles se aproveitam e, lamentavelmente, se assemelham a animadores de auditório, tamanha as firulas que fazem ao dirigir suas equipes.O técnico deverá estar ciente de como joga seu adversário. Por isso é importantíssimo o trabalho de “espionagem” à equipe concorrente. O timedeverá ser armado em função do adversário. Por exemplo: saber das qualidades dos principais atacantes, tipos de jogadas utilizadas, sistema defensivos e ofensivos, característica do levantador etc. Todas essas providências serão necessárias para que não haja surpresas durante o jogo. Para cada situação, o técnico deverá ter atitudes diferentes. Uma coisa é dar treino, outra é dirigir a equipe durante o jogo. “Treino é treino e jogo é jogo”,dizia Valdir Pereira, o grande Didi, bicampeão mundial de futebol em 1958 e 1962. As grandes equipes do voleibol brasileiro e das principais seleções mundiais de todas as modalidades esportivas dispõem, inclusive, de um

quadro de “espiões” para analisarem através de filmagens, scouts, gráficos e de todos os tipos de análises do jogo das equipes adversárias. Quem não tomaressas providências, naturalmente, levará desvantagem significativa durante os jogos.Outra atribuição importantíssima do técnico durante um jogo são as substituições. Ele deverá analisar a atuação dos seus atletas com olhar frio e calculista, e não com olhos de torcedor, para que as substituições sejam feitas no momento exato. As substituições poderão se dar por questões técnicas, táticas ou físicas. Técnicas: quando o jogador, naquele dado momento, não estiver rendendo o esperado; táticas: é a substituição para se tirar proveito de um determinado momento do jogo; físicas: quando o jogador se contunde e,como conseqüência, não tem condições de continuar na partida. Além da comissão técnica, a grandeza e a projeção da equipe dependem da contribuição de cada um de seus integrantes. É natural que determinados atletas dêem maior contribuição para o sucesso da equipe do que os outros, tudo dependendo da capacidade de cada um. É lamentável, entretanto, que uma minoria chegue ao cúmulo de dar prejuízo, não justificando, portanto, sua escalação e muito menos sua presença em quadra.É prudente que os técnicos façam o máximo que puderem em beneficio de seu clube e zele pelos interesses da equipe. Todavia, dentro de certa linha de equilíbrio emocional, ética e elegância. Sendo ele um profissional do esporte, poderá estar servindo a uma agremiação esportiva hoje e a outra amanhã. Portanto, os técnicos devem ter muito cuidado com declarações e atitudes. Podemos perder o jogo, mas, jamais, a linha e a compostura. No voleibol atual, as figuras do titular e do reserva já não existem comoantigamente, tendo em vista a complexidade que envolve o jogo. Normalmente, o técnico utiliza oito a dez atletas. Interessante observar que, nas substituições, o técnico deverá contar com um pouco de sorte. Já fizemos e vimos técnicos fazerem substituições pouco recomendadas e até mesmo imprudentes e dar certo. Mas também, em outras situações, fizemos e vimos substituições perfeitamente corretas e coerentes e dar tudo errado. Devemos admitir: o “imponderável” faz parte do jogo. Numa situação, uma mesma substituição poderá dar certo, e em outro momento, dar errado. As situações de jogo são completamente diferentes das situações de treino. É muito comum um técnico ser considerado um bom treinador e não ter um bom desempenho como técnico de banco e vice-versa. É conveniente, que o técnico conte com o auxílio de um assistente no banco, para que tome todas as providências relativas ao jogo. Agindo assim, ele deixa o técnico mais à vontade para seconcentrar na partida.

Finalizando, vou dar meu depoimento sobre o que penso das grandes conquistas esportivas: o apoio dos dirigentes, a qualidade dos treinamentos, aparticipação atuante e vibrante do técnico durante os jogos, as condições físicas, o desempenho técnico individual e o sistema tático e coletivo exercem grande influência nos resultados finais das partidas. Entretanto, as vitórias são mesmo conquistadas pelo entusiasmo, ousadia, solidariedade, disciplina, espírito de equipe, desejo de vencer, seriedade, valentia e brio dos jogadores. Uma equipe composta por jogadores covardes, irresponsáveis, indisciplinados,“mascarados”, e indiferentes à vitória e à derrota, dificilmente conseguirá obter, nas competições, resultados que sejam dignos de louvores. O atleta, por melhor que seja individualmente, mas desgarrado do espírito de equipe e dos objetivos dos demais companheiros, torna-se um elemento inútil e prejudicial à equipe. “Não só no futebol: em qualquer empresa, a individualismo, a falta de disciplina tática e o salto alto são os maiores inimigos da eficiência”. (Hugo Hoffmann).Na verdade, as providências relatadas neste texto se aplicam a todasmodalidades esportivas e não especificamente ao voleibol. Afinal, os esportes são correlatos, o que muda é somente a maneira de praticá-los.