Em 06/08/2013 às 09h12

A violência associada à obesidade infantil

Diz o velho ditado: “violência gera violência”. Disso todos nós sabemos. Mas quem poderia imaginar que a violência urbana, tão corriqueira nos dias atuais, pudesse também ter influência na obesidade dos jovens. Pois tem. Segundo pesquisas científicas, a violência não só contribui para a insegurança da sociedade, causando sérios transtornos de ordem emocional, social, físico e psicológico, como, ao mesmo tempo, é responsável por um dos grandes flagelos do mundo moderno: a obesidade infantil. Nos dias de hoje, os jovens são alvos fáceis da violência. Em virtude disso, os pais, por precaução, cada vez mais, prendem seus filhos em casa. Trancafiados, não tendo alternativa, só restam à garotada as brincadeiras dos jogos eletrônicos e do computador como únicas opções de lazer. “Crianças que vivem em áreas consideradas menos seguras pelos seus pais têm quatro vezes mais probabilidades de serem obesas do que aquelas que moram nos bairros vistos como mais seguros”. Essa é a conclusão de um Estudo da Universidade de Michigan, Estados Unidos, que analisou os dados de mais de 800 crianças em dez regiões urbanas e rurais naquele país. "De fato, pode muito bem haver uma relação simples e direta entre viver em regiões perigosas e a obesidade", afirmou um dos cientistas envolvidos no estudo. Na análise, os pesquisadores pediram aos pais que respondessem a várias perguntas, entre as elas, uma sobre a opinião deles a respeito da segurança da área em que as crianças moraram dos seis aos 10 anos de idade. A partir dos questionários, o grupo foi dividido em quatro segmentos: dos que se sentiam mais seguros aos que mais sofriam com a insegurança. Os cientistas descobriram que havia uma relação direta entre as áreas em que as crianças foram criadas e a obesidade. Curiosamente, as criadas em áreas mais inseguras apresentavam-se mais “gordinhas” do que as que moravam em áreas mais seguras. E, naturalmente, as que foram criadas em áreas seguras apresentavam-se com o peso corporal mais próximo do ideal.De acordo com os pesquisadores, essa relação pode passar pelas mudanças na educação dada pelos pais de acordo com a percepção de segurança. Quer dizer: “na tentativa de proteger os filhos, os pais não só diminuem o tipo de atividades físicas que ocorrem ao se brincar na rua, como, indiretamente, aumentam a probabilidade de atividades sedentárias características de quem fica em casa”. Às vezes, o exagero por superproteção aos filhos acaba levando muitos pais a isolá-los do mundo. Agindo assim, os pais, sem querer, acabam criando filhos obesos, inseguros e medrosos. A violência, a

superproteção dos pais e a atmosfera de medo familiar criadas pela insegurança podem deixá-los desprotegidos e despreparados, quando tiverem de enfrentar a fase adulta. Conheço famílias que vivem em um clima de total paranóia quando o assunto é a proteção aos filhos.A falta de espaço e a preocupação constante com a violência, principalmente nas grandes cidades, têm afastado as crianças das tradicionais brincadeiras de rua. O grande conflito neste cenário é que, além dos espaços para as brincadeiras nos condomínios fechados serem mal estruturados, eles são também pouco aproveitados. Na verdade, esses espaços não atendem aos anseios dos jovens. São locais que ficam, na maioria das vezes,ociosos e abandonados pelos moradores.Com a diminuição das áreas de lazer e a violência urbana, restaram somente os clubes, únicos espaços seguros para as práticas esportivas, uma vez que a maioria dos colégios, por total descaso, abandonaram as atividades físicas, esportivas e recreativas. Em alguns, nem aulas de educação física existem mais. Seria oportuno que os colégios resgatassem as práticas esportivas dos alunos, deixando de se preocuparem tão somente com a formação intelectual. Em virtude da dificuldade financeira em que vivem muitas famílias brasileiras, o que nos preocupa é que nem todos os garotos têm condições de freqüentar os clubes esportivos, onde poderiam praticar uma atividade física e recreativa orientada por profissionais capacitados. Como diz um amigo: “em tempos de crise, o lugar mais seguro para se viver é dentro do orçamento familiar”. Naturalmente, o primeiro corte de despesas familiares é, sem dúvida, o do lazer. Infelizmente, no Brasil atividades físicas, recreativas e práticas esportivas ainda são vistas como desnecessárias na formação da criançada. E, com isso, nossos jovens ficam mais obesos a cada dia que passa. A equação é simples de ser entendida: violência + medo + computador + jogos eletrônicos + superproteção dos pais + insegurança + telefone celular + alimentação calórica + vida sedentária = obesidade e falta de coordenação psicomotora.