Em 06/08/2013 às 09h15

Coberturas e proteções são iguais?

Neste texto vamos tratar de um assunto importante e de interpretação ambígua no contexto do voleibol: coberturas e proteções. Por se tratar de dois assuntos distintos e com nomenclaturas semelhantes, iremos demonstrar a diferença básica do conteúdo desses termos. A princípio, estas terminologias podem ser parecidas e até mesmo confundidas. Mas não devem.Eu acho que cobertura é uma ação diferente de proteção. Ou seja, em minha modesta opinião, é mais adequado usarmos o termo cobertura para definirmos o apoio que os demais jogadores, na maioria das vezes os atletas das zonas de defesa, fazem nas áreas desprotegidas do lado ou atrás dos bloqueios para recuperar as bolas largadas. E proteção, expressão mais apropriada para definirmos o apoio dos demais jogadores da equipe que fazem ao cortador no momento da finalização da cortada.Na oportunidade, gostaria de deixar claro que não existe nenhuma convenção para se estabelecer qual termo se deve usar para cada uma dessas ações. A princípio, quaisquer dessas expressões estarão certas nos dois sentidos: coberturas e proteções de ataque ou coberturas e proteções de defesa.Doravante, baseando nas minhas convicções e na análise do jogo, neste texto iremos usar o termo “cobertura” para as recuperações e defesas das bolas largadas ou pingadas ao lado ou atrás do bloqueio e “proteção” para o apoio dos demais atletas ao cortador no momento da finalização da cortada.As coberturas estão inseridas no sistema defensivo (disposição tática dos jogadores na quadra para defender o ataque adversário). É caracterizado pelas ações de dois fundamentos: bloqueio e defesa. É a combinação do posicionamento do bloqueio que fecha uma área com a defesa que cobre a outra. Já as proteções estão inseridas no sistema ofensivo (disposição tática ofensiva que as equipes adotam para finalizar o ataque com sucesso). É caracterizado pelas ações de três fundamentos: recepção, levantamento e cortada.Vamos exemplificar cada uma dessas ações: CoberturasÉ importante frisar que não existe um sistema de cobertura que irá cobrir todas as áreas da quadra. Inevitavelmente, nos bloqueios duplos e triplos, haverá sempre espaços desprotegidos na quadra. Quando um bloqueador sai de sua posição para ajudar o outro bloqueador, sua área ficará desguarnecida. A beleza e o charme do voleibol estão justamente nesse “jogo de xadrez” proporcionado por esse detalhe.Se o jogador de defesa cobrir a área deixada vaga pelo bloqueador, sua área é que ficará desprotegida. Não tem jeito. Para preencher todos os espaços vazios da quadra, o voleibol precisaria ser jogado com sete atletas. Conclusão: o jogo perderia toda a sua graça. Os espaços vazios sempre irão existir.Nos bloqueios simples nas extremidades da rede, executado pelos jogadores que ocupam as posições 2 ou 4 (ataque direito e ataque esquerdo, respectivamente), a cobertura deverá ser sempre
pelo jogador que ocupa a posição 3 (ataque centro). Já nos bloqueios simples na posição 3 (ataque centro), a cobertura será de responsabilidade dos jogadores da posição 4 (ataque esquerdo) ou pelo jogador da posição 2 (ataque direito), dependendo, é claro, do lado que a bola for largada. Nos casos de bloqueios duplos nas extremidades da rede, as coberturas poderão ser feitas de quatro maneiras:1 - Pelo correspondente. (A relação de correspondência se refere ao jogador da posição 1 em relação ao 2, jogador 6 em relação ao 3 e ao jogador 5 em relação ao 4). Se o bloqueio for na posição 2 (ataque direito), a cobertura será do jogador 1 (defesa direita). Se for na posição 4 (ataque esquerdo), a cobertura será do jogador 5 (defesa esquerda).2 - Pelo jogador que não participa do bloqueio. Nesse caso, se ele recuperar a bola, dependendo de sua ação, ficará meio impossibilitado de ser acionado no contra-ataque. Mas se de tudo, ele ficar incapaz de participar da finalização, poderá ser usado um atacante da zona de defesa para finalizar o contra-ataque.3 - Pelo centro. Posição 6. (Menos aconselhável. Todavia, às vezes, é usado nas categorias iniciantes);4 - Por zona. Fica responsável o atleta que estiver mais próximo da bola. Exceto o jogador 6 (defesa centro).No bloqueio duplo na posição 3 (ataque centro), as coberturas deverão ser feitas pelo jogador que não participa do bloqueio, pelo jogador da posição 1 (defesa direita) ou pelo jogador 5 (defesa esquerda). Nos bloqueios triplos nas extremidades da rede, as coberturas serão de responsabilidade dos correspondentes. Ou seja, bloqueio duplo na posição 2 (ataque direito), a cobertura será do jogador que ocupa a posição 1 (defesa direita). Bloqueio duplo na posição 4 (ataque esquerda), a cobertura será do jogador 5 (defesa esquerda). Nos bloqueios triplos na posição 3 (ataque centro), as coberturas serão de responsabilidade dos jogadores 1 (defesa direita) e 5 (defesa esquerda), dependendo, é claro, do lado que essa bola for largada.Observação: A título de esclarecimento, para melhor compreensão do item “cobertura”, abaixo fizemos a demonstração gráfica da quadra de voleibol.Divisão, numeração e denominação das zonas de uma quadra:Numeração e nomes das zonas da quadra
1 = Defesa direita
2 = Ataque direito
3 = Ataque centro ou centra
l4 = Ataque esquerdo
5 = Defesa esquerda
6 = Defesa centro ou central
ProteçõesO bloqueio bem executado tornou-se uma poderosa arma de ataque e defesa. Atualmente, a parcela de pontos que se conquista através do bloqueio vem influindo decisivamente nos resultados finais das disputas. O bloqueio bem executado intimida e acovarda os cortadores adversários. Em virtude da extraordinária evolução do bloqueio, torna-se necessária uma proteção constante e eficiente aos cortadores no momento da finalização do ataque. No ato da batida na bola pelo cortador, é providencial que os demais atletas o apóiem. Ou seja, se colocam em posição de expectativa, próximo do cortador para recuperar a bola que por ventura venha ser interceptada pelo bloqueio volte à quadra. Caso isso ocorra, deve-se recuperar a posse de bola e organizar novo ataque.Devido à enérgica flexão das mãos de cima para baixo dos bloqueadores no momento do ataque adversário, em algumas situações devemos admitir ser impossível recuperar algumas bolas interceptadas pelo bloqueio adversário, tamanha é a velocidade que ela volta à sua quadra. Obedecendo a 3ª Lei de Newton (ação e reação), quanto mais forte a bola for batida, mais rápida será a volta. Além de aumentar o “volume de jogo”, o ato de proteger o cortador evita que as bolas “abafadas” pelo bloqueio adversário venham a cair livremente em sua própria quadra. E mais, despertam coragem e confiança nos atacantes e não os deixam desmoralizados pela ação eficiente do bloqueio.Outro detalhe muito importante na proteção dos atacantes é o número de atletas que serão envolvidos. No momento da finalização do atacante, deverão protegê-lo no máximo três e no mínimo dois atletas. Em raríssimas situações, um atleta. Jamais nenhum. Psicologicamente, se o cortador perceber que está desguarnecido de proteção, inevitavelmente se sentirá inseguro na finalização da cortada. Nas combinações de ataque que envolvem o atacante do fundo, fica reduzido o número de atletas para essa função. Mas, pelo menos um deverá fazer participar da proteção. Não precisamos com exatidão a distância em que os atletas encarregados de fazerem a proteção deverão ficar do cortador. Basicamente, é mais uma questão de discernimento de cada um.Curioso ressaltar que, das bolas que são atacadas e interceptadas pelo bloqueio e que voltam à quadra, 80% caem próximo do cortador, enquanto 20% cairão ao fundo da quadra. Outro detalhe muito interessante é que as bolas referentes aos 80% cairão sempre com trajetória reta e rápida, enquanto as bolas correspondentes aos 20% cairão com trajetória curva e lenta.Tanto nas coberturas como nas proteções, o êxito para a recuperação das bolas dependerá principalmente da intuição, reflexão e da rapidez de cada um dos atletas envolvidos. Na verdade, é uma questão de percepção de cada um. Naturalmente, alguns atletas apresentam essa qualidade mais aguçada, enquanto outros têm mais dificuldade. Não há como treinar essa qualidade. É nato de cada um.