Em 06/08/2013 às 09h16

Coreografias do esporte brasileiro

Um gesto que se tornaria marca registrada nas comemorações esportivas teve um brasileiro como criador: a volta olímpica. Foi em 1952, nos Jogos Olímpicos de Helsinque. Para celebrar a medalha de ouro no salto triplo e agradecer ao público, que o aplaudia, Adhemar Ferreira da Silva deu uma volta completa pela pista em torno do gramado do estádio. Naquele dia, imortalizou muito mais que uma forma de festejar. Escreveu um dos mais gloriosos capítulos na história do esporte do Brasil, ao saltar 16,22m e eternizar seu nome na galeria dos heróis brasileiros.Foram oito meses de preparação até a consagração, 23 de julho. Os aplausos foram o reconhecimento ao esforço e dedicação de Adhemar. Em seis tentativas, ele superou quadro vezes seu recorde mundial. Era a segunda medalha de ouro do Brasil em uma Olimpíada – a primeira fora na cidade de Antuérpia, em 1920, com Guilherme Paraense, no tiro.Mas a façanha de Adhemar não se encerraria aí. Em 1955, saltou 16,56m nos Jogos PanAmericanos da cidade do México, maior marca alcançada em sua carreira. Um ano depois, inscreveria definitivamente o nome entre os dos maiores esportistas brasileiros de todos os tempos, ao se sagrar bicampeão olímpico, nas Olimpíadas de Melbourne, com 16,35m. Em 1960, em Roma, ainda tentou o tri, mas terminou em 11º lugar. Estava com tuberculose e não sabia. Ainda assim, foi aplaudidíssimo ao deixar a pista do Estádio Olímpico. O ponto final dessa história foi em 2001. Aos 73 anos, Adhemar morria, parada cardíaca.Só recentemente teve igualado o feito de dar o Brasil um bicampeonato olímpico com Maurício Camargo Lima, na minha modesta opinião, o melhor levantador do mundo de todos os tempos, e Giovane Gávio, ídolos de nosso voleibol, também detentores de duas medalhas olímpicas de fato, Barcelona’ 92 e Sydney’ 2004 e os iatistas Robert Scheidt (classe Laser), Torben Grael e Marcelo Ferreira (Star), vencedores em Atlanta’96 e Atenas’2004.Hoje em dia, além da tradicional volta olímpica, o voleibol masculino do Brasil, para nosso orgulho, dá o “peixinho” nas comemorações dos títulos. E para nossa alegria, peixinho é que não tem faltado em nossas conquistas internacionais.

Na comemoração do título Pan-Americano do ano passado, no Rio de Janeiro, a nossa equipe de basquetebol masculino protagonizou a grande surpresa na comemoração do título: fizeram a “Dança do Siri”, copiada da Turma do Pânico. Foi muito engraçado. Não podemos negar, os atletas brasileiros são muito criativos nas comemorações de seus triunfos esportivos. Os atletas de futebol são, sem dúvida, os que mais inventam, a cada jogo criam uma coreografia diferente nas comemorações dos gols. Atualmente, a coqueluche do futebol carioca é a dança do créu. Na recente decisão do título da Taça Guanabara, entre Botafogo e Flamengo, o que não faltou foi o créu. Acompanhados pela torcida, os flamenguistas não economizaram e embalaram a dança do créu ao som de Poeira de Ivete Sangalo.E salve o esporte brasileiro e suas coreografias espontâneas, autênticas e engraçadas. Que venham as voltas olímpicas, danças do siri e do créu, peixinhos, vira-volta, piruetas, saltos mortais, aviãozinho e o escambau a quatro. A propósito do aviãozinho, quem não se lembra Zagallo, em 1996, num jogo contra a África do Sul, quando o técnico adversário comemorou dois gols fazendo aviãozinho. Quando o Brasil fez o terceiro, virando o jogo, imediatamente, nosso treinador devolveu a provocação e quase decolou em pleno estádio.Em termos de comemoração esportiva, vale tudo. Parafraseando Tim Maia, é oportuno afirmar: “Só não vale dançar homem com homem e nem mulher com mulher. O resto vale”. Mas, convenhamos, não exageremos. Quem não se lembra das cambalhotas de Vampeta em plena rampa do Palácio da Alvorada em 2002, quando a Seleção Brasileira foi recebida pelo então presidente Fernando Henrique Cardoso. Puro exagero. Se a moda pega. Afinal, como diz meu amigo Dr. Carlos Antônio Ferreira Pereira, chefe do Departamento Médico do Minas Tênis Clube: “De médico e louco todo mundo tem um pouco”. Ouso afirmar: Os excêntricos inventam as modas e os sensatos acompanham.